sexta-feira, 23 de abril de 2010

Perfil do Obreiro para os tempos Atuais - Parte 1

O perfil do obreiro de Deus necessário para os tempos de hoje deve ser buscado nas Escrituras. Os tempos passam, mas ela permanece atual. Quando fui para o seminário, meu grande sonho era ter uma máquina de escrever, para poder produzir meus trabalhos. Quem deseja uma máquina de escrever hoje? Ficou defasada. A tecnologia mudou o tempo e as aspirações pessoais. Mas em meu tempo de seminário a Bíblia era atual e válida e hoje permanece atual e válida. As épocas têm ênfases diferentes, mas o substrato é o mesmo: um mundo sem Deus.
Igrejas fracas há muitas hoje. Mas quem leia o Apocalipse e veja a descrição de Laodicéia, verá que sempre houve igrejas fracas. A altamente carismática e altamente problemática igreja de Corinto parece ter muitas irmãs gêmeas em nosso tempo. Assim como não há nada novo debaixo do sol, não há nada novo no cenário religioso. Nossa civilização mantém a mesma linha da civilização de Babel: "façamo-nos um nome". O orgulho que impele a querer viver sem Deus.
Ditas estas coisas, sinalizando por onde andarei, apresento três traços que julgo os mais necessários no obreiro de Deus para o nosso tempo.

Primeiro, um obreiro profundamente cristocêntrico. Esta é, para mim, a questão fundamental. Parece irônico ou surrealista, mas o grande problema dos cristãos contemporâneos é o que fazer com Cristo. Quando a Igreja Católica emite seus conceitos, fá-lo baseada na sua autoridade, nos seus teólogos, na sua estrutura de pensamento. É difícil ver uma referência a Jesus nas suas declarações. Da mesma forma sucede com os evangélicos. Quão pouco se prega sobre Cristo! Sua figura está esmaecida no cristianismo atual. Constantemente me refiro a este ponto: o choque que tive ao entrar em uma livraria evangélica, procurando um livro sobre cristologia, e não encontrar um, um sequer. Mas encontrei quarenta e dois sobre Satanás, maldições, sobre guerra contra o inimigo, batalha espiritual, arrancar a cidade das garras do Diabo, etc. A igreja evangélica contemporânea fez de Satanás o grande astro do momento e a sua principal preocupação. Temos uma incongruência: demônios fortes e um Cristo fraco. Um Cristo que é incapaz de libertar a pessoa, que é salva por ele, mas fica presa de maldição de nomes, de palavras, de vudus, e que precisa da reza forte de um caboclo evangélico.
E o Cristo do Novo Testamento, poderoso, que acalmava tempestades, curava cegos, paralíticos, sobrepunha-se a demônios, o que foi feito dele? Onde está Cristo? Quantas mensagens, nos últimos tempos, você ouviu que se centrasse na pessoa, no caráter e na obra de Jesus? Quantas você pregou, exclusivamente sobre a pessoa do bendito Salvador?

O que dizer de nossos cânticos? "Louvar, adorar, entronizar, tocar vestes, contemplar, voar nas asas do Espírito, mergulhar nos rios, beber dos teus rios, trono" são as expressões e ênfases mais comuns. Alguns deles podem ser cantados numa sinagoga, de tão genéricos que são. Aliás, alguns nada dizem, sobressaem apenas porque têm ritmo agitado e permitem às pessoas liberarem suas emoções. Mas nada falam de Jesus. E a sua cruz? E a sua morte vicária? Onde estão? Cristo foi trocado por Gideão, por Abraão, e por qualquer outro vulto do Antigo Testamento que venceu alguma batalha, ilustrando assim como podemos vencer as batalhas contra nosso inimigo, o problema financeiro. Um pastor neopentecostal, tempos atrás, disse que "o maior inimigo do homem são os problemas financeiros e sua maior vitória é a libertação desses problemas". E Satanás? E o poder do pecado? E a libertação do pecado? E o céu, que Jesus foi preparar para nós, e onde esperamos morar com ele, um dia?

"Estou crucificado com Cristo", disse Paulo. O apóstolo tinha uma paixão, Jesus Cristo. Dispôs-se a perder tudo por amor de Cristo. Vemos hoje obreiros que amam sua carreira, sua denominação, o prédio de sua igreja, mas não evidenciam paixão por Jesus Cristo. Falando sobre Paulo, Stott disse que ele foi um homem intoxicado de Cristo. O perfil do obreiro necessário para nossas igrejas começa por aqui: homens e mulheres apaixonados por Jesus, o maior vulto de todos os tempos, o homem que dividiu a história em antes dele e depois dele, que dividiu a nossa vida em antes e depois dele, o único que faz diferença.

Você precisa ser um obreiro apaixonado por Jesus Cristo. Ele deve estar acima de tudo e em primeiro lugar em sua lista de prioridades. Minha esposa sabe de meu amor por ela. Sabe o quanto ela me é importante e o quanto dependo dela. Mas sabe que Jesus Cristo vem antes dela. E eu sei que Jesus Cristo vem antes de mim na vida dela.

O perfil do obreiro que nossas igrejas precisam começa aqui: paixão por Cristo, prioridade a Cristo, ênfase na pregação sobre Cristo. Quer uma igreja cheia? Pregue sobre as riquezas de Abraão! Quer uma igreja madura, que resista às crises, e que seja digna do nome de igreja? Pregue sobre Cristo, poder de Deus para todo aquele que crê.
Isto é fundamental também por outro motivo. Um dos nossos grandes problemas teológicos está na soteriologia, na doutrina da salvação. Para a teologia da libertação, salvação era libertação da opressão econômica. Para a teologia da prosperidade, salvação é libertação de problemas financeiros, de saúde e de relacionamentos humanos. Uma pregação cristocêntrica recuperará o conceito correto de salvação: salvação do poder do pecado, do poder do Diabo, salvação para a vida eterna, para morar no céu com Jesus. E se você acha que isto é discurso de pastor velho, e não valoriza isto, desculpe-me: não é digno de ser um obreiro de Cristo. Você poderá ter um grande fã clube, mas nunca terá um rebanho, porque só salvos pelo sangue de Cristo formam o rebanho de Deus. O rebanho que temos que pastorear é um rebanho constituído de pessoas que foram salvas do domínio do Maligno e do poder do pecado, pelo sangue de Jesus.

Segundo, um obreiro que seja profundamente bibliocêntrico. Um obreiro centrado nas Escrituras, e não em insights que ele julga serem uma revelação especial de Deus. Centrado na Bíblia mais que na tradição denominacional. Um obreiro que domine bem as Escrituras, que saiba usá-las. Mas isto não significa apenas recitar versículos e saber encaixá-los em determinadas mensagens. Significa um obreiro que se paute pela Bíblia, que leve a igreja a se pautar pela Bíblia, e que leve os crentes a se estruturarem sobre a Bíblia.


Cada dia aparece uma novidade no cenário evangélico. Tivemos dente de ouro, paletó ungido, gargalhada santa, cair no Espírito, etc. Duda Mendonça parece trabalhar para os evangélicos, criando sempre jogadas de marketing e animação de auditório. O grande problema é que se pode ter comunidades animadas, mas sem raízes, sem a Palavra de Deus, viva e eficaz, que transforma, consola e admoesta. Pregue a Bíblia. Este foi o conselho de Paulo a Timóteo: "Prega a Palavra!".. Precisamos de pessoas comprometidas com Jesus e que amem a Palavra de Deus. É assim que tenho procurado formatar a igreja que tenho a honra de servir.


Parte 2


Pr. Alexandre Pedroso

Pastor do Distrito Bento Gonçalves.